Projeto Educomunicação, Cidadania e Protagonismo Juvenil

segunda-feira, 2 de março de 2009

De que comunicação estamos falando?


Olá pessoal, tenho tentado escrever desde que voltei do Maranhão, após a minha estadia em Belém no Fórum Social Mundial, mas demorei um pouco para absorver aquele universo de coisas, um mundo de possibilidades.

Hoje, fiquei inspirada após ler uma mensagem de e-mail que recebi há alguns dias atrás, falando sobre a falta de acesso as informações do Fórum, questionando a dificuldades das pessoas que não estiveram lá em saber mais sobre o que aconteceu, os próximos passos, e a cobertura jornalística dada pelos meios de comunicação.

Realmente os grandes meios de comunicação não colocaram o Fórum na suas pautas, o que já era esperado, afinal, estamos num ano de discussão intensa, de conferencias regionais, estaduais e com a possibilidade da realização da Conferencia Nacional de Comunicação em dezembro deste ano, segundo declaração do nosso presidente Lula.

Além do Fórum Social Mundial, ocorreu anteriormente o Fórum Mundial de Mídia Livre, espaço que reuniu diversas mídias alternativas do país e em especial da América Latina, rádios comunitárias, jornais, revistas, o projeto Viração que contribuiu para a reflexão da produção de mídia pelos jovens, no processo de autonomia e de valorização deste publico.

O Fórum Social Mundial reuniu cerca de 90 mil pessoas que se encontraram na busca de um objetivo principal: Um outro mundo é possível. Talvez essa expressão pareça um pouco utópica mas o que me faz compartilhar deste sentimento é ver na história do nosso país os movimentos sociais crescendo, ganhando força e se articulando para enfrentar os “grandes”. Um exemplo disso é a caso das concessões, como a da Rede Globo, renovada em 2007 por mais 15 anos. Precisaremos de muita força para fazer com que a voz do povo seja ouvida, principalmente quando esse povo, na sua maioria, se vê retratado nas telinhas da Globo. Por mais que o BBB não tenha nada a ver com a vida da maioria dos brasileiros, é o programa com maior índice de audiência, e porque?

O fato é que hoje estamos discutindo uma reformulação nas concessões, estamos lutando pelas rádios comunitárias, pelas tvs publicas, os movimentos sociais, as organizações da sociedade civil e sindicatos estão se articulando para levar essa proposta para a população. Sabemos que é um processo lento, faz parte de uma mudança no processo educacional e cultural do qual vivemos há séculos, no qual se estabelece a relação de poder, a relação opressores – oprimidos, por isso essa transformação deve ser vista passo a passo, comemorando cada conquista, mesmo que de um grupo pequeno, distante e sem um grande alcance mas torcendo para que a partir dessa experiência, outros grupos se multipliquem e formem uma rede.

Como foi criado o Fórum de Mídia Livre, um espaço para discussão sobre as políticas publicas de comunicação, o midialivrismo, a construção de redes para difusão do conhecimento, e em especial a exigência de uma Conferencia Nacional de Comunicação.

Agora, é preciso que os profissionais da comunicação, da educação, os estudantes, lideres comunitários e envolvidos na temática se envolvam neste processo, contribuam para uma nova comunicação, incentivem as mídias populares locais ou produzam mídias alternativas. Não podemos ficar esperando que a grande mídia saia da sua cultura de mercado e mergulhe no mundo de possibilidades que o terceiro setor traz, e que o Fórum pode retratar muito bem, pelo menos para quem esteve lá.

Falar em fim do capitalismo? Justamente a mídia que vive muito bem nele? Um país que tem na presidência do Senado um coronel que comanda o estado do Maranhão, é dono do maior sistema de comunicação de lá, com a concessão da Globo, num dos estados mais pobres do país. Como podemos esperar que um meio de comunicação cubra, por exemplo, um manifesto, como o que ocorreu lá, chamado Balaiada, que protesta contra as barbáries que a família do nosso presidente do Senado faz naquele estado. Como isso poderia ser divulgado na mídia?

Não poderia, não foi e nem será.

Por sorte temos esses movimentos, esses manifestos, que existem em cada canto do país e são em momentos como este, do Fórum, que podemos conhecer, trocar, compartilhar e levar conosco para onde formos. Felizmente estão crescendo as formas de divulgação, e mais felizmente ainda, de forma séria, critica e plural. Como a revista Fórum que nasceu dos eventos do Fórum Social Mundial, os tantos projetos e organizações de comunicação que estavam lá fazendo a cobertura on line das atividades, como a Viração, o Intervozes, a Ciranda, Abraço e tantos outros.

Ainda não chegamos ao ponto de atingir a grande massa, nem sei se chegaremos, mesmo em Belém sentimos falta de mais divulgação das atividades, os moradores também não entendiam direito o que estava acontecendo, os jornais informavam muito pouco, mas mesmo que eles não mostrem, não falem, o país ficou sabendo de alguma forma que 90 mil pessoas se reuniram por uma causa social, talvez tenham achado que era um evento para índio, hippie, doido, comunista, enfim, a cada ano o barulho vai ficando maior, o mundo vai mudando (quem esperava uma crise mundial como essa?), e com o acesso as novas tecnologias, softwares livres e uma “pitadinha” de bom senso, coletivo e comprometido vamos conseguindo espaços para multiplicar essas experiências.

Desta forma, volto para Santos, minha cidade, disposta a contribuir para a construção de uma reflexão sobre as possibilidades, de transformação, de humanização, de construção e re-construção.

Finalizo esta minha primeira impressão, expressada e rascunhada aqui, com uma frase de Leonardo Boff, quem eu tive o prazer de ver e escutar no Fórum:

“As pessoas esqueceram o que é o bem comum, para elas o bem comum é o seu carro, sua casa, sua mulher, e aqui nós conseguimos resgatar o bem comum (no Fórum)... a casa comum é o planeta terra, precisamos cuidar dele”

Que tenhamos sempre esperança, que aprendamos a cultivá-la e entendamos que com amor e respeito ao outro poderemos chegar a esse mundo possível, a uma outra educação necessária.

Um comentário:

Unknown disse...

flaMuito bom o texto!
Tua contribuição amplia o debate. Sonhos que se alimentam da esperança que realiza.
Bjos.
Flavinha